Macaúba será um vetor de transformação para o Cerrado brasileiro, de porte médio, a palmácea é uma espécie rústica, pouco exigente em termos hídricos, o que permite o seu plantio em regiões com longos períodos de estiagem
Os planos da S.Oleum, empresa dedicada à produção de matérias-primas sustentáveis com carbono negativo, em larga escala, para a transformação das indústrias de energia, química e de alimentos, por meio da restauração florestal. Ela quer chegar a 180 mil hectares de cultivo de macaúba – palmeira nativa do Brasil – em sistemas integrados até 2028, quando será finalizada a primeira fase do projeto. “Faremos isso no Cerrado, porque só no ano passado (2018) o bioma teve mais de 7.300 Km2 de vegetação nativa suprimida, segundo os dados do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]”, diz Felipe Morbi, cofundador e Vice Presidente da S.Oleum, que desde 2007 se dedica à estruturação da cadeia da macaúba.
A escolha do Cerrado não foi por acaso. Conhecido como celeiro hídrico nacional por ter em sua área as nascentes das principais bacias hidrográficas da América do Sul, o bioma é a savana mais biodiversa do mundo. Além disso, sua vegetação é conhecida como uma floresta de ponta-cabeça, uma vez que 70% da biomassa se concentra no sistema radicular, que também responde por grande parte do sequestro de carbono.
Mas, ao longo dos anos, o bioma vem sofrendo por causa do desmatamento, das queimadas e do manejo incorreto do solo, que provocam a degradação da terra. O plantio de macaúba, palmeira nativa do Brasil, encontrada – sobretudo – no Cerrado surge como uma solução.
De porte médio, a palmácea é uma espécie rústica, pouco exigente em termos hídricos, o que permite o seu plantio no bioma, caracterizado pelos solos precários (ácidos) e por longos períodos de estiagem. O habitual são quatro meses sem chuva, mas a seca tem se prolongado em função das mudanças climáticas.
O efeito macaúba
Descoberta em 2004, quando o governo brasileiro garimpava as espécies brasileiras com potencial para produção de óleo para biodiesel, a macaúba passou a ser objeto de estudo de diversos profissionais, entre eles, Felipe Morbi. Desde 2007, ele está à frente da Acrotech, uma empresa de tecnologia agrícola voltada ao melhoramento genético da macaúba para fins comerciais, que recentemente foi adquirida pela S.Oleum.
Foi esta expertise que levou o investidor Francisco de Blanco ao encontro de Morbi. O profissional do ramo financeiro estava envolvido no projeto de uma biorrefinaria voltada à produção de combustíveis renováveis e começou a rodar o mundo em busca de novas matérias-primas.
A macaúba se mostrou uma ótima solução e a união dos dois executivos deu origem à S.Oleum, empresa alicerçada nos compromissos da agenda ESG – sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança – e voltada não só à produção de combustíveis avançados, mas também ao fornecimento de matéria-prima para as indústrias de energia, química e alimentos.
As macaubeiras, como também são conhecidas estas palmáceas, serão plantadas em sistemas agroflorestais (macaúba + lavoura) ou silvipastoris (macaúba + pastagem + pecuária), que são considerados peças-chaves no contexto da Década de Restauração de Ecossistemas, instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para o período de 2021 a 2030.
Segundo o órgão, estes anos serão fundamentais para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) e cumprimento das medidas assumidas no Acordo de Paris (COP-21) para limitar o aumento da temperatura em 1,5ºC até o fim do século XXI.
A integração de atividades produtivas é apontada como vetor para a restauração de terras degradadas pelo mundo e meio de geração de renda e desenvolvimento para os territórios rurais. Além disso, é uma importante ferramenta para ajudar os países a mitigar as mudanças climáticas. No caso da macaúba, estudos revelam que a espécie tem o potencial de sequestrar 28,73 toneladas de CO2 por hectare ano em sistemas agroflorestais.